quarta-feira, 10 de julho de 2013

A loucura brasileira




Pode-se dizer, com base no processo de socialização, que é inerente ao ser humano o desejo do Poder. Mentir, usurpar, dominar, corromper, maquiar, idealizar. São alguns simples verbos conjugados por muitos de nós, visando ao mais alto grau hierárquico. Com efeito, deve-se ter em mente que, não existe ideia coletiva, mas nasce na mente de um indivíduo que, encontrando pessoas “gêmeas”, ou seja, com a mesma tendência, forma-se uma aliança para chegar ao trono. A esse jogo chamo de plano de poder.

O plano de poder pode ser entendido como um conjunto de ações que leva uma ou um grupo de pessoas a assumir o governo de uma cidade, estado ou país. Esse plano, elaborado a fim de vencer algumas resistências, demanda um complexo planejamento e etapas para sua execução. Dependendo do objetivo a ser conquistado e o grau de resistência, determina o tempo de execução.

Quero expor aqui alguns desses planos de poder que, engendrado por alguns, levaram certos grupos políticos a assumirem o comando nacional. Vamos começar pelo período pós-ditadura, a nova república.

A entrega do poder pelos militares no Brasil se deu pelo racha das lideranças militares do Alto Comando das Forças Armadas. O General Hugo de Abreu, bola da vez para assumir a presidência, foi preterido pelo General Ernesto Geisel que passou o cetro para o General João Figueiredo. Assim, por temer levantes militares, que já estava por ser promovido pelo General Hugo, o grupo que mantinha o poder resolveu que já estava na hora de abandonar a naus, antes que esta viesse a pique.

Muito embora todo o movimento pelas diretas já tivesse ganhado as ruas, o fato dos militares se afastarem do poder já estava decidido. A última decisão do Colégio Eleitoral Brasileiro foi à eleição de Tancredo Neves que disputou a presidência contra Paulo Maluf. Este perdeu, sem apoio do General Figueiredo.

Tancredo Neves não assume a presidência por “problemas de Saúde” e em seu lugar assume seu vice, José Sarney, dissidente da extinta Aliança Renovadora Nacional (Arena), que tem hoje seus antigos membros espalhados por vários paridos, tais como, no também extindo PDS, depois PPR, mais adiante PPB ,PFL e hoje DEM.

Sancionada a nova Constituição, preparam-se novas eleições, surge então a figura de Collor de Mello, o caçador de marajás. Apoiado pelo senhor Roberto Marinho fazendo uso de seu império de comunicação, a Rede Globo, construída e ampliada com o consentimento e ajuda da Ditadura Militar, derrota o então “proletário”, Luis Inácio Lula da Silva. Aqui começa o plano de poder do PT.

Com base no pensamento de Antonio Gramsci, este plano foi elaborado para levar o atual Presidente Lula à presidência. Conhecido como Fórum de São Paulo, toda a elite política com tendências à esquerda, fizeram um pacto com vistas à conquista do planalto central para as futuras eleições. Dentre os articuladores estava Fernando Henrique Cardoso.

Por motivo de desmandos e certamente pela frustração do principal cabo eleitoral de Collor (Roberto Marinho), este cai. Com a queda do “caçador de marajás”, assume o seu vice, Itamar Franco. Existe uma gravação em que o senhor Roberto Marinho diz em entrevista: “eu coloquei, eu tiro”. Com a queda de Collor, ampliam-se às possibilidades e o plano de poder engendrado no Fórum de São Paulo cria corpo e toma novos rumos.

Porém, o momento político e econômico brasileiro está bastante conturbado. A inflação ameaça chegar a níveis superiores de antes do plano Collor. O vice-presidente, Itamar Franco, sem um projeto de governo, procura aliados para contornar a crise econômica. Chama, então, para ocupar o Ministério da Economia, Fernando Henrique Cardoso.

O plano de poder, iniciado no Fórum de São Paulo, com reuniões feitas em Cuba, cai por terra. Fernando Henrique Cardoso se desliga do movimento e parte em carreira solo. Assumindo o Ministério, inicia o Plano Real. Aqui resta saber se este plano já havia sido elaborado nas reuniões do fórum de São Paulo ou não, pois não existem referências sobre os detalhes do plano de poder. Apenas uma coisa é certa, a liderança, já não mais dividida, coloca Lula como o principal protagonista do plano engendrado no Fórum de São Paulo.

Em 1994, Fernando Henrique Cardoso apoiado pelo então Presidente, o Sr Itamar Franco, sai candidato a Presidência da República, tendo como principal adversário, Luiz Inácio Lula da Silva. Neste pleito, a intelectualidade do PSDB, capitalista, “liberal”, vence a intelectualidade do PT, socialista,. Quando Fernando Henrique assume o poder, Lula fala que a campanha deste foi feita com base em 8 anos de poder. O PT, elege uma boa bancada no parlamento e o plano de Lula no Poder tem início por uma forte oposição dos Deputados e Senadores do PT, porém, sabendo que só assumiria o Planalto depois do segundo mandato de FHC.

É neste cenário que entra o economista e deputado federal José Serra que, com a morte do segundo mais forte no PSDB, o Governador Mário Covas, assume a possibilidade de ser o sucessor presidencial. Este, no segundo mandato de FHC, torna-se Ministério da Saúde e começa então, a traçar a rota para a disputa presidencial com o agora pronto Luis Inácio Lula da Silva.

Chegamos no ano de 2002, eleições presidenciais. Os principais candidatos; Luiz Inácio Lula da Silva e José Serra que, confiante na sua vitória, não contava com uma fragorosa derrota da sua base eleitoral, o Estado de São Paulo. No primeiro turno a diferença chega perto de 4.000.000 de votos a favor do Lula e, no segundo turno, cai um pouco, mas fica na casa de mais de 3.000.000. Percebe-se, com isso, a grande rejeição do candidato do PSDB no seu principal reduto eleitoral. Mas qual o motivo e de onde vem essa rejeição?

O plano de poder traçado no Fórum de São Paulo, com base no pensamento e projeto de poder de Gramsci, tinha como principal prioridade a infiltração de intelectuais em diversas áreas, entre elas as Universidades públicas, principalmente na formação de professores e o Clero, este com base na Teologia da Libertação. O objetivo destes eram, disseminar a ideologia socialista para a formação e ação nas comunidades de bases e nasescolas públicas, com objetivo de dar corpo as pessoas destas comunidades que estavam e estão um tanto distante da realidade acadêmica. Uma rede de agentes partidários, faria a diferença na formação de uma mentalidade de mudanças a partir da base.

Com esse quadro, e o plano de oito anos para Lula, cria-se, portanto, a necessidade de uma nova investida, “purificando” a base eleitoral psdbista. Ou seja, o PSDB paulista precisava reconquistar sua base eleitoral para eleger um presidente. A partir da identificação dos focos opositores ao PSDB paulista, passa a ser esta a principal missão dos articuladores do partido em São Paulo. Destarte, faria necessário um plano bem mais estruturado que o simples clientelismo de outrora ou o investimento em uma publicidade eleitoral de maior nível.

O plano de poder para José Serra tem início pela aliança com lideranças políticas na cidade de São Paulo, já como articulação para construção de um nome forte para assumir a presidência da República em 2010 a partir de São Paulo.

O primeiro passo seria minar as forças de rejeição ao nome escolhido. Para tanto, deve-se começar, por assim dizer, de baixo, não como uma derrota, mas como estratégia que dará a condição básica para ter seu principal reduto eleitoral nas mãos. Serra sai candidato para prefeito de São Paulo com amplo apoio do DEM,, extinto PFL, mais que aliados, uma coligação, pois estes estavam bem envolvidos com os problemas da comunidade paulistana.

Assim, em 2006, Serra disputa a prefeitura contra a petista Marta Suplicy. No primeiro turno, Serra vence com uma pequena margem, que mantém no segundo, tornando-se prefeito da cidade de São Paulo.

A derrota da Marta Suplicy em São Paulo mostra um ponto falho no plano de poder do PT, abrindo perspectiva para que as próximas eleições presidenciais fossem menos fácil para Lula e o PT que, desgastado com brigas ideológicas internas, luta pelo poder, mensalão, alianças desastrosas com outros partidos, entre outros fatores, possibilitassem o enfraquecimento do partido dos trabalhadores desde sua base.

Depois de dois anos na prefeitura de São Paulo, Serra alça vôo um pouco mais alto, porém, ainda em São Paulo, disputa a sucessão no Governo Paulista. O PSDB coloca Geraldo Alckimin como candidato para disputar a presidência. Lula perde em São Paulo, no primeiro turno com uma diferença de quase 2.000.000. Aqui a eleição foi polarizada entre estes dois partidos. No segundo turno o PT perde novamente em São Paulo, porém com uma diferença menor, 1.000.000. Muito embora Lula continuasse presidente por mais 4 anos, o plano de enfraquecimento da base do PT em São Paulo estava se concretizando.

Serra vence a disputa pelo governo paulista por uma gritante diferença contra o candidato petista Alozio Mercadante. Com quase o dobro de votos do PT, Serra vence no primeiro turno. O caminho para a presidência da República fica cada vez mais calmo e certo. Porém, não se pode deixar um plano pela metade, pois, com as seguidas derrotas, nas terras dos bandeirantes, o PT poderia fortalecer seu plano novamente.

As ações governamentais do Governador José Serra visaram minar a resistência paulista a favor do PT, desfalecer os redutos intelectuais petista em São Paulo. De fato, logo no primeiro dia de mandato, o governador direciona toda sua atenção nesse propósito e cria a Secretaria de Ensino Superior, cortando já no primeiro mês de governo, em 15% as verbas das Universidades Estaduais.

O mais importante objetivo dessa medida, foi acabar com o “poder paralelo” nas Universidades públicas paulistas. A criação dessa Secretaria, conhecida como super-reitoria, faz passar pelas mãos do Secretário de Estado, cargo de confiança de José Serra, todas as ações que antes eram de âmbito interno nas Universidades Estaduais. Essa medida faz com que os intelectuais, que desfrutavam das verbas para se manterem pesquisando em São Paulo se espalham pelo Brasil. Agora restava apenas, já sem apoio intelectual dos acadêmicos, reformar e desacreditar os professores da escola básica.

Um conjunto de medidas começa a ser tomada. A primeira foi a campanha de desvalorização da escola básica, criticando, inclusive os Secretários anteriores do próprio PSDB, nessa onda de críticas, como uma metralhadora giratória descontrolada, a imprensa acompanha o movimento apontando o quadro docente como único culpado pela precariedade da educação. A educação, como um todo, destroçada pela imprensa paulista, deve ser reconstruída. Mas desta vez com a cara do PSDB de Serra.

Diversas medidas foram tomadas, a primeira foi criar um grupo de apoio. Os diretores recebem poderes amplos na gestão, que antes era apenas na questão administrativa. Hoje um diretor tem poder de decisão, coloca e tira vice-diretores, coordenadores pedagógicos sem qualquer participação dos docentes. A Secretaria da educação Impõe um currículo básico, unificando todo o processo didático-pedagógico, com o discurso que escola pública não serve para preparar o aluno para o vestibular, mas para o mercado de trabalho. Instala um poder central a partir da Secretaria da Educação. Separa o nível técnico criando escolas bem estruturadas que competem fragorosa e desigualmente com as escolas básicas. Para o professor na sala de aula do ensino médio regular sobra a insignificância dos alunos que também estudam em escolas técnicas. O desmantelamento da escola regular, subsidia as escolas técnicas, favorecendo a “ótima” qualidade dessas escolas; Ampla mordomia e diferença de tratamento entre os professores. Porém, o que nem os alunos, nem a população percebem é que os alunos das escolas técnicas são selecionados e que uma enorme quantidadeficaram estão de fora.

O fim de qualquer possibilidade de revide, por parte dos professores da rede pública estadual, que não foi percebida pelos sindicatos da categoria, foi o desmembramento da categoria, por várias Leis aprovadas com a finalidade de fragmentar o quadro do magistério, a separação destes docentes em categorias distintas. A promoção por mérito que fragmenta a ação docente foi a das mais baixas investida, pois, para ter promoção e, portanto, aumento em seu salário, os professores precisam brigar entre si em uma prova de qualificação, gerando assim, inconscientemente, um antagonismo na categoria.

Os Sindicatos da categoria, mal assessorados politicamente pela CUT (portanto, PT), que recebe uma gorda parcela de recurso do sindicato, não se deram conta que perderam toda sua base em São Paulo, pois crêem que o clientelismo, cunhadismo, ampliado principalmente nas regiões mais pobres do Brasil, seja suficiente para manter o PT no poder.

A falta de percepção dos dirigentes sindicais, no momento em que as leis foram votadas, mostra o despreparo da base do PT paulista para a disputa eleitoral que se aproxima, principalmente, no Estdo de São Paulo, indicando novamente Aloísio Mercadante, como boi de piranha.

Lembre-se, o candidato José Serra já fala em federalizar a educação, o que será que ele pretende?