segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Max Weber - Dominação (Tradicional, Carismática e legal)

Há uma relação de dominação quando uma quantidade qualquer de indivíduos obedecem a uma ordem vinda de parte da sociedade, seja ela composta por uma ou por diversas pessoas. A dominação é sempre resultado de uma relação social de poder desigual, onde percebe-se claramente a existência de um lado que comanda (domina) e outro que obedece. Podemos assemelhar assim a dominação a qualquer situação em que encontremos indivíduos subordinados ao poder de outros. Mas a dominação difere das relações de poder em geral por apresentar uma tendência a se estabilizar, a procurar se manter sem provocar confrontos. Em outras palavras, as relações de dominação dentro de uma sociedade se caracterizam por buscar formas de legitimação, de serem reconhecidas como necessárias para a manutenção da ordem social. O sociólogo Max Weber apresentou, em um de seus estudos mais importantes, três tipos puros de dominação legítima, cada um deles gerando diferentes categorias de autoridade. São classificados como puros porque só podem ser encontrados isolados no nível da teoria, combinando-se quando observados em exemplos concretos. O primeiro deles é a dominação tradicional. Significa aquela situação em que a obediência se dá por motivos de hábito, porque tal comportamento já faz parte dos costumes. É a relação de dominação enraizada na cultura da sociedade. Um exemplo extremamente claro é o da família patriarcal: os filhos obedecem aos pais devido a uma relação de fidelidade há muito estabelecida e respeitada. O segundo tipo de dominação é a carismática. Nela a relação se sustenta pela crença dos subordinados nas qualidades superiores do líder. Essas qualidades podem ser tanto dons sobrenaturais quanto a coragem e a inteligência inigualáveis. Podemos tomar como exemplo qualquer grupo religioso centrado na figura do profeta, que apenas através de suas habilidades e conhecimentos pessoais, sem o uso da força, consegue arregimentar um grande número de seguidores. O último tipo de dominação é a dominação legal, ou seja, através das leis. Nessa situação, um grupo de os indivíduos submete-se a um conjunto de regras formalmente definidas e aceitas por todos os integrantes. São essas regras que determinam ao mesmo tempo a quem e em que medida as pessoas devem obedecer. Um exemplo ilustrativo é o do empregado que acata as ordens de um superior, seja ele o patrão ou não, de acordo com as cláusulas (regras, leis) do contrato assinado por todas as partes. Uma outra questão apontada por Weber é que, conforme a relação de dominação tem seu alcance ampliado, torna-se necessária a adoção de mecanismos que possibilitem a sua expressão uniforme e que garantam a execução de suas ordens, mecanismos estes que geralmente se apresentam sob a forma de equipes de apoio. Cada um dos tipos apresenta uma maneira especial de selecionar pessoas para essas equipes. Num contexto tradicional seus integrantes são determinados conforme sua experiência, sua fidelidade e sua intimidade com a tradição são reconhecidas pelo grupo e pelos seus superiores. Em um ambiente carismático a equipe é pessoalmente escolhida pelo líder, de acordo com as afinidades entre eles. Mas não podemos deixar de assinalar a importância de que os escolhidos também apresentem qualidades que garantam sua proeminência sobre a população. Por fim, num meio mantido por regras comuns, a determinação dos membros da equipe deve seguir, da mesma maneira, normas universais. Nesta caso essas normas geralmente se resumem à competência e à eficiência para executar as atividades necessárias, e a burocracia aparece como sua forma mais completa.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Karl Marx, síntese das ideias principais.


Karl Marx

1. Bibliografia

·         1818: Karl Marx nasce no dia 15 de maio em Trier (Prússia renana).
·         1935-36: estuda Direito em Bonn.
·         1836: Mudou-se para Berlim onde passou a freqüentar o Doktor Club e manteve contatos com os hegelianos de esquerda.
·         1841: doutora-se em Filosofia em Iena. Escreve a Diferença da filosofia da natureza em Demócrito e Epicuro.
·         1842: redator da Gazeta Renana (jornal liberal).
·         1844: Vai para Paris, escreve os Manuscritos econômicos e filosóficos, conhece Friedrich Engels e ambos escrevem a A sagrada família;
·         1846: Vai para Bélgica, escreve A ideologia alemã contra os hegelianos de esquerda.
·         1848: escreveu, com Engels, O manifesto do Partido Comunista;
·         1849: vai para Londres;
·         1859: foi publicada A crítica de economia política;
·         1862-63: Teorias da Mais-valia.
·         1865: Salário, preço e lucro;
·         1867: escreve o primeiro volume de O Capital.

·         1883: faleceu no dia 14 de março em Londres;
·         1885: Engels publicou o segundo volume de  O Capital;
·         1894: Engels publicou o terceiro volume de    O Capital;
·         1905: Kaustiski publicou o terceiro volume de O Capital.


2. Objetivo de sua vida e obra.

§  O fundamento de seu pensamento é a afirmação de que a história é fruto da ação dos homens, ela é superior a cada um deles.

§  Os liberais admitiam que o egoísmo de cada um construiria o interesse comum. Em Marx, é possível encontrar uma elaboração intelectual que vai de encontro aos liberais: o egoísmo de cada um destruiria o interesse comum.

§  O objetivo de Karl Marx era destruir o Capitalismo, e todo seu pensamento foi direcionado com o intuito de acelerá-lo. Por esse motivo, ao analisar o Capitalismo, não o fez de maneira científica, pois primeiro condenou-o e depois escreveu sobre ele.


§  Marx partiu do pressuposto que o Capitalismo era ruim e teria que ser destruído, para somente depois estudá-lo.
§  Na compreensão da sociedade, é preciso entender a economia, bem como para entender a economia é necessário entender o funcionamento da sociedade.

§  O fundamento de seu pensamento é a afirmação de que a história é fruto da ação dos homens, ela é superior a cada um deles.

§  Os liberais admitiam que o egoísmo de cada um construiria o interesse comum. Em Marx, é possível encontrar uma elaboração intelectual que vai de encontro aos liberais: o egoísmo de cada um destruiria o interesse comum.


3. Conceitos.

·         A presença de Karl Marx, como um dos fundadores da Sociologia como ciência, pode resumir-se aos conceitos que ele introduziu no estudo da sociedade:

1.      Massa;
2.      Proletariado;
3.      Classe;
4.      A importância do econômico
5.      A idéia de evolução;
6.      Colocou o homem na história (a idéia e evolução são nitidamente hegelianas).


4. Influências no pensamento de Karl Marx.
Karl Marx



Filosofia idealista                               Sociologia                                          Economia
Alemã                                                Utópica Francesa                               Inglesa


5. Pensamento de Marx.

Um dos grandes méritos do pensamento de Marx foi ter dialogado com as principais correntes teóricas de seu tempo.


·         Filosofia Alemã
Marx, que era doutor em filosofia, começou sua análises teóricas integrando-se a um grupo de pensadores alemães chamado de esquerda hegeliana.

·         Socialismo utópico
Marx chamaria este conjunto de pensadores de socialistas utópicos, pois embora eles fizessem críticas ao sistema capitalista erravam ao não fazer uma análise profunda das leis de funcionamento do capitalismo e ao não reconhecerem a classe operária como a única possibilidade de construção do socialismo.

·         Economia Política
Em seu período na Inglaterra, Marx realizou um profundo e longo estudo da ciência econômica, para mostrar as leis de funcionamento do modo de produção capitalista e apontar as possibilidades de sua superação.


6. Teoria Sociológica.

·         Materialismo Histórico.

·         A história é fruto do trabalho humano. São os homens, interagindo para satisfazer suas necessidades que desencadeiam o processo histórico.

·         É com base nesse pressuposto geral que Marx se propôs a estudar a sociedade.


7. A sociedade.

·         Para ele, o estudo da sociedade começa quando tomamos consciência de que “o modo de produção material condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral”.

·         O estudo da sociedade deve começar sempre pela sua economia (vida material do homem), que é o elemento que condiciona o desenvolvimento da vida social.


8. Resumo de seu método sociológico.

Prefácio do livro: Contribuição à Crítica da Economia Política (1859):

“O resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu de guia para meus estudos, pode formular-se resumidamente assim: na produção social da própria existência, [economia], os homens entram em relações determinadas, necessárias, independentes de sua vontade”

Estas relações de produção correspondem a um grau de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem formas sociais determinadas da consciência.
Portanto, o método de análise sociológica de Marx pode ser apresentado desta forma:

Superestrutura política
(Superestrutura jurídica e política)
Superestrutura ideológica
(Formas sociais determinadas de consciência)
Infra-Estrutura = forças produtivas + relações de produção.
(Estrutura econômica da Sociedade)


9. Infra-estrutura.

·         Vejamos como Marx concebe cada um destes níveis da vida social. Para Marx, o elemento fundamental da economia é o trabalho. O ser humano, para sobreviver, precisa produzir os bens necessários para a satisfação de suas necessidades.
·         É através do trabalho que o homem transforma a natureza e reproduz sua existência.
·         De acordo com o sistema dialético de Marx, através do trabalho, o homem supera sua condição de ser apenas natural e cria uma nova realidade: a vida social.
·         A sociedade é justamente a síntese do eterno processo dialético pelo qual o homem atua sobre a natureza e a transforma:
“O trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza [...]. Atuando assim sobre a natureza externa modificando-a, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza.”
·         O processo de trabalho, diz Marx, envolve duas dimensões principais:
·         A relação do homem com a natureza;
·         A relação do homem com os outros homens no próprio processo de trabalho.
·         A relação do homem com a natureza é mediada pela matéria prima e pelos instrumentos de trabalho que são os meios auxiliares que o homem desenvolve e que o auxiliam no processo de produção.
·         O conjunto formado pela matéria prima, pelos meios de produção e pelos próprios trabalhadores de uma sociedade é chamado por Marx de forças produtivas.
·         As forças produtivas da sociedade correspondem a tudo aquilo que é utilizado pelo homem no processo de produção, desde a simples enxada até as máquinas mais desenvolvidas.
·         Segundo Marx:
O que é a sociedade, seja qual for a sua forma? – O produto da ação recíproca dos homens. Podem os homens escolher livremente esta ou aquela forma de sociedade? De modo algum [...]. Não é preciso acrescentar que os homens não escolhem livremente as suas forças produtivas – a base de toda a sua história -, pois toda força  produtiva é uma força adquirida, o produto de uma atividade anterior.
As forças produtivas são, portanto, o resultado da energia aplicada dos homens [...]. A conseqüência necessária: a história social dos homens nada mais é que a história do seu desenvolvimento individual, tenham ou não consciência disso.
·         Mas a produção (ou o processo de trabalho) não é um fenômeno isolado. Ela é também um fenômeno social, coletivo. Envolve, portanto, a relação do homem com o próprio homem. Por isso, no processo de trabalho, o homem cria também relações de produção. As relações de produção são as interações que os homens estabelecem entre si nas atividades produtivas.
·         Corresponde de forma geral, a divisão do trabalho, seja dentro de uma atividade específica seja entre as diversas atividades em seu conjunto.
·         Para se entender a vida de uma sociedade é preciso acompanhar a evolução de suas forças produtivas, pois são elas que determinam o tipo de relações existentes, como diz o próprio Marx:
Em certa fase de seu desenvolvimento histórico, as forças produtivas da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes (...). Abre-se, então, uma era de revolução social. A transformação que se produziu na base econômica transtorna mais ou menos lentamente toda a colossal superestrutura.


10. Superestrutura.

·         Partindo da análise das relações de produção, Marx constatou que a sociedade se dividia em classes sociais. As classes sociais são frutos das relações que os homens estabelecem no processo de produção.
·         Elas surgem quando um grupo social se apropria das forças ou meios de produção e se torna proprietários dos instrumentos de trabalho.
·         As classes sociais dividem a sociedade em dois grupos fundamentais: os proprietários dos meios de produção e os não-proprietários destes meios.
·         Dito de outra forma:
É o fenômeno da propriedade privada que dá origem às classes sociais, qual seja, a divisão da sociedade entre proprietários e não proprietários.
·         Segundo Marx:
O que eu trouxe de novo foi a demonstração de que:
1.      A existência das classes só se liga a determinadas fases históricas de desenvolvimento da produção;
2.      A luta de classes conduz, necessariamente, à ditadura do proletariado;
3.      Esta mesma ditadura não é por si mais do que a transição para abolição de todas as classes sociais e para uma sociedade sem classes.
·         Para consolidar o seu domínio sobre os não proprietários, as classes dominantes precisam fazer uso da força.
·         É nesse momento que surge o ESTADO.
·         De modo geral, Marx afirma que o Estado é um instrumento criado pelas classes dominantes para garantir seu domínio econômico sobre as outras classes.
·         As leis e determinações do Estado estão sempre voltadas para o interesse da classe dos proprietários. Quando as leis e normas do Estado falham, o poder estatal tem ainda o recurso da força eu garante os interesses das classes dominantes.
·         Um segundo instrumento das classes proprietárias para garantir seu domínio econômico é a força das idéias, ou seja, a ideologia. Para Marx, as idéias da sociedade são as idéias da classe dominante (do ponto de vista econômico e político), ela também consegue difundir a sua “visão de mundo” e os seus valores.
·         As outras classes acabam adotando esta visão e, desta forma, não percebem que são dominadas. A ideologia poder ser definida como um conjunto de representações da realidade que servem para legitimar e consolidar o poder das classes dominantes.

11. Teoria da Modernidade.

Marx, sem sombra de dúvida, é o grande analista da formação, desenvolvimento e supressão do modo de produção capitalista que se constitui, para ele, no eixo de compreensão da modernidade.
O capitalismo é o tema daquela que é considerada a principal obra de Marx – O Capital.

Podemos sintetizar a crítica de Marx ao capitalismo em duas teses principais:

Tese da exploração: o capitalismo é um sistema econômico na qual a riqueza é produzida pela exploração de uma classe social sobre a outra. O conceito central que enuncia a tese da exploração é a categoria “Mais-Valia”.

Tese da alienação: O capitalismo é um sistema econômico no qual o conjunto de indivíduos e da sociedade passa a ser determinado pelo poder impessoal do dinheiro (capital) e da própria esfera econômica que foge do controle social. O conceito central que enuncia a tese da alienação é a categoria “Fetichismo da Mercadoria”.

Tese da exploração: a mais-valia.
O elemento básico da economia capitalista, segundo Marx, é a mercadoria.
Como o capitalismo é um sistema produtor de mercadorias é preciso começar a análise deste modo de produção pela explicação das características da mercadoria.


12. Mercadoria.

Para Marx, a mercadoria tem um duplo caráter:

Mercadoria
Tese
Antítese
Síntese
Valor de uso
Valor de troca
Valor de uso e valor de troca.

Valor de uso.
O valor de uso de uma mercadoria é o seu aspecto material, ou seja, sua capacidade de satisfazer uma necessidade humana. O valor de uso, portanto, tem a ver com o “conteúdo da mercadoria”.

Valor de Troca.
O valor de troca é a capacidade que cada mercadoria possui para ser trocada por outra mercadoria. Com a troca começa a surgir um problema. Como vou saber quanto de trigo (mercadoria A) posso trocar por açúcar (mercadoria B), por exemplo? Como medir a “grandeza” do seu valor?
Adotando a teoria de David Ricardo (teoria do valor-trabalho), Marx vai afirmar que o que determina a grandeza do valor é a quantidade de trabalho socialmente necessário, ou o tempo de trabalho socialmente necessário para a produção de um valor de uso.
O valor de uma mercadoria, portanto, vem do trabalho. Marx explica ainda que “tempo de trabalho socialmente necessário é o tempo de trabalho requerido para produzir-se um valor de uso qualquer, nas condições de produção socialmente normais, existentes, e com o grau social médio de destreza e intensidade do trabalho”.
Para serem trocadas entre si, as mercadorias precisam da intermediação de uma outra mercadoria: o dinheiro.
Para entender a origem do valor, diz Marx, podemos apresentá-lo de três formas:
Forma simples: uma mercadoria X pode ser trocada por outra mercadoria Y.
Forma total: uma mercadoria X pode ser trocada por várias mercadorias (a,b,c,d,e,f etc.)
Forma dinheiro: todas as mercadorias (a,b,c,d,e,f etc.), podem ser trocadas por uma única mercadoria que serve de “equivalente geral” para todas as mercadorias.
É neste momento, que surge o dinheiro. A ação social de todas as outras mercadorias elege, portanto, uma mercadoria determinada para nela representarem seus valores. O dinheiro serve a dois propósitos: servir de meio de troca e de forma de valor (ou equivalente geral das mercadorias).


13. Estrutura.
Estabelecidos os elementos fundamentais da economia, que são a mercadoria (M) e o dinheiro (D), Marx passa a analisar o processo de troca ou processo de circulação simples, que ele explica de acordo com a fórmula:

M ---------------- D------------------M

O importante de assinalar nesta fórmula é o seu objetivo.
A troca tem em vista a satisfação de alguma necessidade.
Ela começa com um valor de uso, que é vendido. Com o dinheiro adquire-se outro valor de uso.
Neste processo, o dinheiro é um meio de troca que serve para a aquisição de uma mercadoria que vai para a esfera do consumo.
Já a circulação capitalista tem outra fórmula:
D--------------- M --------------- + D.
Ao contrário da anterior, a circulação capitalista tem outro objetivo: o lucro.
A troca começa com dinheiro (Capital) que termina tornando-se mais dinheiro.
Este é o segredo do capitalismo.
Seu objetivo não é a satisfação das necessidades, mas a própria acumulação. A acumulação é a lei absoluta do modo de produção capitalista.
Neste processo, a mercadoria (valor de uso) é apenas um meio de valorização do capital. O dinheiro entra na circulação e depois volta a ele para tornar-se mais dinheiro.
Qual a origem do lucro?
A origem do lucro está no fato de que ela ocorre no processo de produção, e não na troca (circulação).


14. Mais-valia.

Primeiro estágio (compra):
[D----------M------------força de trabalho]
         ------------Matéria prima]
O capitalista (Alex) compra 20 kg de algodão (matéria prima) a 20 reais e, além de dois fusos no valor de 4 reais, paga a seu operário (João – força de trabalho) 3 reais.
Meu capital investido é de 27 reais.

Segundo Estágio (produção):
[.......(P)......]

A transformação do algodão em fio, através do trabalho produtivo. Em 6 horas, a jornada do trabalhador se divide em duas partes. Em 3 horas ele fabrica o equivalente a seu salário (3 reais) e nas 3 horas restantes ele produz a mais valia (3 reais).

Trabalho necessário       Trabalho excedente
------------------------ {  } ----------------------

Terceiro estágio (venda):
 [M-------- + D]

A nova mercadoria (uma camisa da Nike) é vendida a um preço de 30 reais, sendo que foram necessários 27 reais de “capital”. A mais-valia, portanto, é de 3 reais, obtidas do tempo de trabalho não pago ao trabalhador.

Resumo
Circulação
Produção
Circulação
D ---- M1
Compra
......(P)......

M2 ---- +D
Venda

A categoria básica da teoria econômica, portanto, é a categoria de mais-valia. Por isso, ao longo de O capital, ele procura mostrar que existem duas formas principais pelas quais é possível extrair lucro:

Mais-valia absoluta: o lucro é obtido pelo aumento da jornada de trabalho, em outros termos, aumenta-se a quantidade de trabalho excedente (que serve para pagar os salários).

Mais-valia relativa: o lucro é obtido pelo aumento da produtividade. Neste processo, o capitalista não precisa aumentar o tempo de trabalho. Basta fazer o trabalho render mais. Isto se consegue especialmente através do aperfeiçoamento tecnológico, pelo qual o operário produz sempre mais, apesar de não variar o tempo de trabalho.


15. Tese da alienação: fetichismo da mercadoria.

·         Além de criticar o modo de capitalista de produção por estar fundado na apropriação do valor excedente por uma determinada classe, Marx dirige também uma segunda crítica ao capitalismo: neste sistema o homem encontra-se alienado. Na verdade, o conceito de alienação foi bastante importante na obra de “jovem Marx” não é mais localizado nos textos do chamado “Marx Maduro”.
·         O ponto de partida da argumentação de Marx para apresentar sua tese da alienação também parte de uma análise da mercadoria.
·         Segundo o autor, “à primeira vista, a mercadoria parece ser coisa trivial, imediatamente compreensível. Analisando-a, vê-se que ela é algo muito estranho, cheia de sutilezas metafísicas e argúcias teológicas”.
·         Mas, em que consiste o caráter misterioso da mercadoria ao qual Marx se refere?
·         “A mercadoria é misteriosa simplesmente por encobrir as características sociais do próprio trabalho dos homens, apresentando-as como características materiais e propriedades sociais inerentes aos produtos de trabalho; por ocultar, portanto, a relação social entre os trabalhos individuais dos produtores e o trabalho total, ao refleti-la com relação social existente, à margem deles, entre os produtos de seu próprio trabalho”.
·         O que Marx procura deixar claro nesta frase é que a mercadoria perde sua relação com o trabalho e parece ganhar vida própria. Embora o valor contido nela seja fruto do trabalho investido pelo homem em sua produção, tudo se apresenta como se o valor da mercadoria já estivesse contido naturalmente nela.
·         O capital desvinculado do trabalho aliena o ser humano da produção de sua existência social. A alienação inverte o sentido das relações sociais: o homem (sujeito) se torna objeto, enquanto o objeto (mercadoria) se torna sujeito.
·         O processo de produção do capital se desprende do controle social dos indivíduos e passa a funcionar segundo sua própria lógica interna: a busca da acumulação.
·         Por outro lado, o caráter impessoal, material, formal e racional da mercadoria passa a reger a vida dos homens e suas formas de organização social.
·         Através do conceito de fetichismo da mercadoria Marx chama a atenção paro o processo de mercantilização da vida e das relações sociais: “para estes [os homens], a própria atividade social possui a forma de uma atividade das coisas sob cujo controle se encontram, ao invés de controlarem”.
·         Em outros termos, no capitalismo, em vez de a produção estar a serviço do homem, é o homem que se encontra dominado pela produção.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Tendências sociais da escola

Tendência tradicional

Papel da escola: Consiste na preparação intelectual e moral dos alunos para assumir sua posição na sociedade. O compromisso da escola é com a cultura, os problemas sociais pertencem à sociedade. O caminho cultural em direção ao saber é o mesmo para todos os alunos, desde que se esforcem. Assim, os menos capazes devem lutar para superar suas dificuldades e conquistar seu lugar junto aos mais capazes.

Conteúdos de ensino: São os conhecimentos e valores sociais acumulados pelas gerações adultas e repassados aos alunos como verdade. Os conteúdos são separados da experiência do aluno e das realidades sociais, valendo pelo valor intelectual, razão pela qual a pedagogia tradicional é criticada como intelectualista e, às vezes, como enciclopedista.

Métodos: Baseia-se na exposição verbal da matéria e/ou demonstração. Tanto a exposição quanto a análise são feitas pelo professor, observados os seguintes passos:

a)Preparação do aluno (recordação anterior)

b)Apresentação (pontos chaves)

c)Associação (combinar conhecimento novo/velho)

d)Generalização (Exposição sistematizada)

e)Aplicação (Exercícios)

Relacionamento professor/aluno: Predomina a autoridade do professor que exige atitude receptiva dos alunos e impede qualquer comunicação entre eles na aula. O professor transmite o conteúdo na forma de verdade a ser absorvida. A disciplina imposta é o meio mais eficaz para assegurar a atenção e o silêncio.

Pressupostos de aprendizagem: A idéia de que o ensino consiste em repassar os conhecimentos para o espírito da criança é acompanhada de uma outra: a de que a capacidade de assimilação da criança é idêntica à do adulto, apenas menos desenvolvida.

Os programas devem ser dados numa progressão lógica, estabelecida pelo adulto, sem levar em conta as características próprias de cada idade. A retenção do material ensinado é garantida pela repetição de exercícios sistemáticos e recapitulação da matéria.

Tendência Renovada

Papel da escola: A finalidade da escola é adequar as necessidades individuais ao meio social e, para isso, ela deve se organizar de forma a retratar, o quanto possível, a vida. À escola cabe suprir as experiências que permitam ao aluno educar-se, num processo ativo de construção e reconstrução do objeto, numa interação entre estruturas cognitivas do indivíduo e estruturas do ambiente.

Conteúdos de ensino: Como o conhecimento resulta da ação a partir dos interesses e necessidades, os conteúdos de ensino são estabelecidos em função de experiências que o sujeito vivencia frente a desafios cognitivos e situações problemáticas. Dá-se mais valor aos processos mentais e habilidades cognitivas do que a conteúdos organizados racionalmente. Trata-se do “aprender a aprender”, ou seja, é mais importante o processo de aquisição do saber do que o saber propriamente dito.

Método de ensino: A idéia do aprender fazendo esta sempre presente. Valorizam-se as tentativas experimentais, a pesquisa, a descoberta, o método de solução dos problemas. Embora os métodos variem, as escolas novas partem sempre de atividades adequadas à natureza do aluno e às etapas do seu desenvolvimento. Acentua-se a importância do trabalho em grupo não apenas como técnica, mas como condição do desenvolvimento mental. Os passos do método são:

a)Colocar o aluno numa situação de experiência que tenha um interesse por si mesma.

b)O problema deve ser desafiante, como estímulo à reflexão.

c)O aluno deve dispor de informações e instruções que lhe permitam pesquisara descoberta de soluções.

d)Soluções provisórias devem ser incentivadas e ordenadas, com a ajuda discreta do professor.

e)Deve-se garantir a oportunidade de colocar as soluções à prova, a fim de determinar sua utilidade para a vida.

Relacionamento professor/aluno: Não há lugar privilegiado para o professor. Seu papel é de auxiliar o desenvolvimento livre e espontâneo da criança. Se intervém é para dar forma ao raciocínio dela.

Para se garantir um clima harmonioso dentro da sala de aula é indispensável um relacionamento positivo entre professores e alunos, uma forma de instaurar a “vivência democrática” tal qual deve ser a vida em sociedade.

Pressupostos de aprendizagem: A motivação depende da força de estimulação do problema e das disposições internas e interesses do aluno. Assim, aprender se torna uma atividade de descoberta, é uma auto-aprendizagem, sendo o ambiente apenas o meio estimulador.

Tendência histórico-crítica

-Papel da escola: A difusão de conteúdos é a tarefa primordial. Não conteúdos abstratos, mas vivos, concretos, indissociáveis das realidades sociais. A valorização da escola como instrumento de apropriação do saber é o melhor serviço que se presta aos interesses populares.

-Se o que define uma pedagogia crítica é a consciência de seus condicionantes histórico-sociais, a função da pedagogia dos conteúdos é dar um passo à frente no papel transformador da escola, mas a partir das condições existentes.

-A condição para que a escola sirva aos interesses populares é garantir a todos um bom ensino, isto é, a apropriação dos conteúdos escolares básicos que tenham ressonância na vida dos alunos.

-A educação é uma atividade mediadora no seio da prática social global, uma das mediações pela qual o aluno, pela intervenção do professor e por sua própria participação ativa, passa de uma experiência inicialmente confusa e fragmentada (sincrética) a uma visão sintética, mais organizada e unificada.

-Conteúdos de ensino: São os conteúdos culturais universais que se constituíram em domínios de conhecimento relativamente autônomos, incorporados pela humanidade, mas permanentemente reavaliados face às realidades sociais.

-Embora se aceite que os conteúdos são realidades exteriores ao aluno, que devem ser assimilados e não simplesmente reinventados, eles não são fechados e refratários ás realidades sociais. Não basta que os conteúdos sejam apenas ensinados, ainda que bem ensinados; é preciso que se liguem, de forma indissociável, à sua significação humana e social.

-Métodos de ensino: Se o objetivo é privilegiar a aquisição do saber, e de um saber vinculado às realidades sociais, é preciso que os métodos favoreçam a correspondência dos conteúdos com os interesses dos alunos, e que estes possam reconhecer nos conteúdos o auxílio ao seu esforço de compreensão da realidade (prática social).

-Assim, não se trata dos métodos dogmáticos de transmissão do saber da pedagogia tradicional, nem da sua substituição pela descoberta, investigação ou livre expressão das opiniões, como se o saber pudesse ser investigado pelo aluno, na pedagogia renovada.

-Os métodos de uma pedagogia crítico-social dos conteúdos não partem de um saber artificial, depositado a partir de fora, nem do saber espontâneo, mas de uma relação direta com a experiência do aluno, confrontada com o saber trazido de fora.

-O trabalho docente relaciona a prática vivida pelos alunos com os conteúdos propostos pelo professor, momento em que se dará a “ruptura” em relação à experiência pouco elaborada.

-Tal ruptura apenas é possível com a introdução explícita, pelo professor, dos elementos novos de análise a serem aplicados criticamente á prática do aluno.

-Uma aula começa pela constatação da prática real, havendo, em seguida, a consciência dessa prática no sentido de referi-la aos termos do conteúdo proposto, na forma de um confronto entre a experiência e a explicação do professor. Vai-se da ação à compreensão e da compreensão à ação, até a síntese, o que não é outra coisa senão a unidade entre a teoria e a prática.

Tendência tecnicista

Papel da escola: Num sistema social harmônico, orgânico e funcional, a escola funciona como modeladora do comportamento humano, através de técnicas específicas.

-À educação escolar compete organizar o processo de aquisição de habilidades, atitudes e conhecimentos específicos, úteis e necessários para que os indivíduos se integrem na máquina do sistema social global.

-Tal sistema social é regido por leis naturais, cientificamente descobertas. Basta aplicá-las. A atividade da “descoberta” é função da educação, mas deve ser restrita aos especialistas; a “aplicação” é competência do processo educacional comum.

-A escola atua no aperfeiçoamento da ordem social vigente; para tanto, emprega a ciência da mudança de comportamento, ou seja, a tecnologia comportamental. Seu interesse imediato é o de produzir indivíduos “competentes” para o mercado de trabalho, transmitindo, eficientemente, informações precisas, objetivas e rápidas.

Conteúdos de ensino: São informações, princípios científicos, leis etc..., estabelecidos e ordenados numa seqüência lógica e psicológica por especialistas. É matéria de ensino apenas o que é redutível ao conhecimento observável e mensurável; os conteúdos decorrem da ciência objetiva, eliminando-se qualquer sinal de subjetividade. O material instrucional encontra-se sistematizado nos manuais, nos livros didáticos, nos módulos de ensino, nos dispositivos audiovisuais etc...

Métodos de ensino: Consistem nos procedimentos e técnicas necessárias ao arranjo e controle nas condições ambientais que assegurem a transmissão/recepção de informações. Se a primeira tarefa do professor é modelar respostas apropriadas aos objetivos instrucionais, a principal é conseguir o comportamento adequado pelo controle do ensino; daí a importância da tecnologia educacional.

Processos instrucionais:

a)Estabelecimento de comportamentos terminais, através de objetivos instrucionais.

b)Análise da tarefa de aprendizagem, afim de ordenar sequencialmente os passos da instrução.

c)Executar o programa, reforçando gradualmente as respostas corretas correspondentes aos objetivos.

Relacionamento professor/aluno: São relações estruturadas e objetivas, com papéis bem definidos: o professor administra as condições de transmissão da matéria, conforme um sistema instrucional eficiente e efetivo em termos de resultados da aprendizagem.

-O aluno recebe, aprende e fixa as informações. O professor é apenas um elo de ligação entre a verdade científica e o aluno, cabendo-lhe empregar o sistema instrucional previsto.

-O aluno é um indivíduo responsivo, não participa da elaboração do programa educacional. Ambos são espectadores frente à verdade objetiva. A comunicação professor / aluno tem um sentido exclusivamente técnica, que é de garantir a eficácia da transmissão do conhecimento.

Pressupostos de aprendizagem: As teorias de aprendizagem que fundamentam a pedagogia tecnicista dizem que aprender é uma questão de modificação do desempenho: o bom ensino depende de organizar eficientemente as condições estimuladoras. O ensino é um processo de condicionamento através do uso de reforçamento das respostas que se quer obter.

AS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 90

Empregabilidade e equidade social.

Constata-se que os anos noventa foram marcados por reformas educacionais em todos os âmbitos do sistema de ensino, o que tem levado a inferir que esta década só seja comparável à década de 60 em termos das mudanças que ensejou.

As reformas educacionais dos anos 90 trazem como referencia a preocupação com a equidade social e educação para todos. Para melhor compreensão do desenvolvimento do ideário das reformas na educação nesta década é preciso proceder a uma distinção entre três períodos de importantes movimentações no campo educativo.

1 – Educação e desenvolvimento (anos 40 até meados de 70).

Os anos sessenta refletiram no campo educativo as transformações que já vinham ocorrendo em décadas anteriores na vida econômica e social do país. Vários foram os eventos que marcaram essa época, entre eles: a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1961, a transformação dos Colégios Universitários em Faculdades de Educação no início da década e o Primeiro Simpósio Brasileiro da Associação dos Professores de Administração Escolar – ANPAE, também em 1961.

Este período foi marcado pela introdução das idéias Taylor-fordistas no Brasil. Isto resulta na criação do SENAI em 1942, tendo à sua frente o grande industrial Roberto Simonsen, árduo defensor da incorporação dos ensinamentos da “organização científica do trabalho” como forma de superação dos pesados ônus deixados pela Segunda Guerra Mundial.

“Na moderna organização do trabalho, a antiga disciplina, a militar – que só se impunha pelo rigorismo dos feitores carrancudos – é substituída pela disciplina inteligente e consciente – oriunda do conhecimento exato que tem o operário da natureza do seu trabalho e da certeza do justo reconhecimento dos seus esforços.”(IN: Simonsen, 1973:436)

É nesse período que se assiste no Brasil a uma tentativa sem precedentes de modernização da economia através da industrialização, o que exigiu da classe trabalhadora melhores e maiores quesitos educacionais. Desde essa época, a relação entre formação e emprego passa a determinar as políticas educacionais

A influência exercida pelo pensamento econômico atribuía à educação formal o status de investimento seguro, o que mais tarde seria conhecido como Teoria do Capital Humano.

Por essas razões, será desenvolvido um modelo de êxito fundado na grande corporação, ou seja, a possibilidade de ascensão social para as classes trabalhadoras, no momento em questão, repousava na via da grande corporação, do emprego formal e regulamentado

Foram esses anos que consolidaram o esgotamento da possibilidade de êxito através da pequena propriedade. Isto se deu a partir do desenvolvimento das grandes corporações, produto do capitalismo monopolista. A educação formal passa a ser considerada como um elevador social 

O vinculo direto entre escolaridade e trabalho, em decorrência da relação educação e desenvolvimento, é forjado a partir daí, o que pode ser percebido no texto da primeira LDB-EM n. 4024, de 1961. Tal relação intensifica-se durante o regime autoritário, que tem lugar no Brasil a partir de 1964, apresentado a educação como investimento produtivo, como ficou expresso na Lei 5692, de 1971.

2 – Educação e Democracia (meados de 70 até final dos 80).

Em decorrência, justamente, da ampliação do direito à educação referida na Lei 5692/71, assiste-se no Brasil, na década de 70 e início dos anos 80, a um redimensionamento jamais visto na rede física de ensino público

O crescimento súbito da estrutura educacional no Brasil de maneira desordenada, pouco planejada e com todos os atropelos característicos das contradições do próprio regime autoritário, combinando elementos de descentralização administrativa previstos na reforma do Estado de 1967, através do decreto n. 200/67, com o planejamento centralizado.

Consolida-se, assim, a organização de um sistema nacional de educação com evidentes traços de autoritarismo e verticalismo na sua gestão. A administração da educação, no referido contexto, passa a ser entendida como atividade racional e burocrática, devendo ser completamente dissociada da política.

A gestão da educação deveria assentar-se no planejamento elaborado por especialistas no assunto. O Instituto Latino-americano de Planejamento Econômico e Social – ILPES, criado no interior da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe – CEPAL, tinha como objetivo formar os planejadores e administradores escolares. A escola, assim como o sistema, também deveria se organizar dentro dos pressupostos da chamada “administração científica do trabalho”.

No final da década de 70, com as manifestações políticas que deram origem ao processo de abertura no país e ao surgimento do novo sindicalismo, toma expressão o movimento em defesa da educação pública e gratuita. Esse movimento vai se contrapor à dissociação existente entre planejamento econômico e social. Os segmentos sociais organizados em defesa da escola pública e gratuita, extensiva a todos, vão denunciar o caráter centralizado dos planejamentos globais que refletem o padrão autoritário de política estatal.

Tal reivindicação será conhecida como a defesa do acesso e permanência na escola. Para tanto, seria necessário combater o caráter excludente da instituição escolar que além de muito restritiva no acesso (a inexistência de vagas para todos), ainda dificultava a permanência da maioria através do uso de formas autoritárias de ensino e avaliação. Essas formas, denominadas de cultura da repetência, impediam que muitos conseguissem concluir sua trajetória escolar.

Uma gestão democrática da educação, que reconhecesse a escola como espaço de política e trabalho, era buscada nos emblemas de autonomia administrativa, financeira e pedagógica; participação da comunidade nos desígnios da escola (elaboração dos projetos pedagógicos e definição dos calendários) e a criação de instâncias mais democráticas de gestão (eleição de diretores e constituição dos colegiados).

A Constituição Federal de 1988 consolida muitas dessas conquistas à medida em que reconhece a necessidade de ampliação da educação básica, incluindo agora a educação infantil, ensino fundamental e médio, abarcando, ainda, a gestão democrática. Em relação aos direitos dos trabalhadores da educação pública, a Carta Magna de 1988 também dispõe sobre a liberdade dos mesmos se organizarem em sindicatos.

A principal característica desse processo foi a discussão do direito a igualdade. Se a educação do ponto de vista econômico era imprescindível para o desenvolvimento do país, do ponto de vista social era reclamada como a possibilidade de acesso das classes populares a melhores condições de vida e trabalho. Essa dupla abordagem talvez tenha forjado a construção de uma nova orientação para as reformas educativas dos anos noventa.

3 – Educação e eqüidade social (anos 90).

Em março de 1990 é realizada, em Jomtien, a Conferência Mundial Sobre Educação Para Todos, propondo maior eqüidade social nos países mais pobres e populosos do mundo. O Brasil, sendo signatário desta Conferência, procurou implementar reformas nos seus sistemas públicos de educação básica em consonância com os princípios da mesma. O Plano Decenal de Educação, assinado em dezembro de 1993, é a expressão primeira desse esforço. Alguns autores consideram que este nunca tenha saído do papel.

O traço mais marcante dessa Conferência será a construção de um consenso em torno de uma educação para todos com eqüidade social. Tais orientações buscam mediar as duas referências anteriores: uma educação que responda às exigências do setor produtivo (gestão do trabalho) e outra que atenda às demandas da maioria (gestão da pobreza).

O termo eqüidade refere-se à disposição de reconhecer o direito de cada um, mesmo que isso implique em não obedecer exatamente ao direito objetivo, pautando-se sempre pela busca de justiça e moderação. Esse entendimento do termo sempre esteve presente nas políticas educacionais brasileiras. Entretanto, não parece ser essa a conotação atribuída à eqüidade social no atual momento.

Este conceito, da forma como aparece nos estudos produzidos pelos Organismos Internacionais ligados à ONU e promotores da Conferência de Jomtien, sugere a possibilidade de estender certos benefícios obtidos por alguns grupos sociais à totalidade das populações, sem contudo, ampliar na mesma proporção as despesas públicas para esse fim. Nesse sentido, educação com eqüidade implica o mínimo de instrução indispensável às populações para sua inserção na sociedade atual.

Essa concepção difere radicalmente das motivações da defesa pela educação contida nas referências anteriores. No alvorecer dos anos noventa, uma nova orientação será cunhada. A educação básica reveste-se de caráter profissional com as mudanças no processo produtivo. As exigências de perfil profissional mais flexível e adaptável recaem para uma formação calcada não mais em saberes específicos, mas em novos modelos de competência.

Por fim, as orientações para as reformas educacionais nos anos 90 resguardam a possibilidade de continuar a formar força de trabalho para as demandas do setor produtivo, e no lugar da igualdade de direitos oferecem a eqüidade social, entendida como a capacidade de estender para todos o que se gastava só com alguns. O Fundo de Manutenção e de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério – FUNDEF parece refletir exatamente esta lógica.

Finalmente, partindo da constatação de que o mercado de trabalho, na economias globalizadas , vem apresentando um aumento significativo do emprego precário, uma queda generalizada dos salários, um aumento do trabalho informal e uma crescente taxa de desemprego é necessário discutir o recente conceito de empregabilidade como um termo criado mais para encobrir que para explicar essa realidade.

Esse conceito que refere-se mais à capacidade dos trabalhadores se manterem empregados ou encontrar novos empregos, quando demitidos, a partir de suas possibilidades de resposta às exigências de maiores requisitos de qualificação demandados pelas mudanças tecnológicas do processo produtivo. Necessita ser questionado pela raiz.



segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Fundamentos para a pedagogia diferenciada



“Se o objetivo é dar a todos a chances de aprender, quaisquer que sejam suas origens sociais e seus recursos culturais, então, uma pedagogia diferenciada é uma pedagogia racional. Diferenciar é, pois, lutar para que as desigualdades diante da escola atenuem-se e, simultaneamente, para que o nível de ensino se eleve”. Perrenoud

A teoria crítica do currículo, hoje é mais situada nas relações que são geradas entre o currículo e ideologia, currículo e estrutura social, currículo e cultura, currículo e poder. A igualdade de tratamento na aula produz desigualdades nas aprendizagens, pois a própria organização escolar produz o insucesso dos alunos e provoca a separação entre escola e sociedade. Então a utilização da pedagogia diferenciada constitui uma provocação de transformação profunda, ao propor enfrentamentos que respondam às diferentes expectativas e necessidades dos alunos para que adquiram competência de intervenção na sociedade.

O que se entende em termos de pedagogia diferenciada é que o currículo não pode permanecer insensível ao diferente capital cultural de procedência familiar e social que os alunos carregam no seu dia-a-dia para a escola. Existe uma relação entre sucesso escolar e situações sociais privilegiadas, assim como, entre fracasso escolar e situações sociais desfavorecidas, e a escola por sua vez, reproduzindo a sociedade, acaba confirmando e reforçando a cultura das classes privilegiadas. É certo que a incidência de culturas distintas traz consigo muitas vezes conflitos, discriminação, dominação e exclusão.

O currículo não deve descuidar da especificidade das diferenças, pluralidades, múltiplos olhares da aprendizagem e a chamada cultura popular. É por isso que penso, como Philippe Perrenoud, que os professores, devem ter competência para entender que os alunos são, tal como nós próprios, seres sociais com uma bagagem peculiar de crenças, significados, valores, atitudes e comportamentos adquiridos em ambientes extra escolar, que devem ser considerados.

Ao núcleo comum que forma o currículo formal e oficial, é necessário adicionar um novo cenário curricular onde se contemple a conversa entre as diversas culturas presentes, pois não existe uma única cultura universalmente aceita e, por isso, correta de ser transmitida.

O professor é o elo articulador entre a sociedade e a escola, fazendo da instituição escolar um local de pluralismo cultural, de referências e identidades legitimadas, de caminhos e procedimentos de aprendizagem dos alunos. O docente terá como missão consolidar a ascensão educacional de cada discente, sem, no entanto desvalorizar a visão da sociedade, onde esses alunos estão inseridos. Ao respeitar e legitimar as identidades e especificidades regionais, locais e individuais (incluindo as necessidades educativas especiais) concretizará a consonância social que todos buscam. Acredito seja essa a proposta de Philippe Perrenoud, quando fala em pedagogia na escola das diferenças.

Quando nos reportamos a Perrenoud, lembramos dos três fundamentos para a pedagogia diferenciada. O primeiro fundamento tem por embasamento uma política educativa de criação igualitária: “a diferenciação está ligada ao cuidado de fazer trabalhar em conjunto alunos de níveis diferentes, no seio de grupos heterogêneos”. O segundo é que a informação da diversidade de caráter cognitivo permite a noção de entradas para a diversificação didática. O terceiro, mais determinante, é de fundo ético, e assenta-se sobre o postulado da educabilidade, “numa atitude sistemática, procurar incansavelmente encontrar um caminho possível para a aprendizagem, mesmo depois de tudo ter falhado”.

Considerando o que está enunciado, em minha opinião, aumentar o tempo de estudo não é a solução, pois o tempo não é a fundamental saída, deve-se sim, aprender num ritmo relativamente unificado, porém conduzido pelos professores de forma diferenciada. Portanto, o que deve ser diferenciado é investir em cada aluno, na criatividade, de maneira estratégica, e no atendimento personalizado dedicado a cada discente.

Perrenoud, Ph. A Pedagogia na Escola das Diferenças. Fragmentos de uma sociologia do fracasso.