domingo, 16 de outubro de 2022

SEMIÓTICA

 



Semiótica



A semiótica, de maneira geral, é uma doutrina ou um modo de reflexão sistemática sobre os signos (aqui, naturalmente, não no sentido astrológico, popularmente adotado, mas no sentido em que aponta ou dá significado a algo), sua classificação, as leis que os regem e seus usos no âmbito da comunicação e seus significados. Em sentido mais estrito, adotado a partir do século XX, a semiótica passou a dizer respeito a uma disciplina acadêmica de caráter autônomo. Este termo foi amplamente utilizado no mundo de língua inglesa (Reino Unido e Estados Unidos), tendo sido introduzido pelo filósofo inglês John Locke (1632 – 1704), e também na Alemanha e no Leste-Europeu. Apesar de, por muitos anos, ter prevalecido o termo “semiologia” entre os chamados estruturalistas franceses, termo introduzido pelo linguista suíço Ferdinand de Saussure (1857 – 1913), o termo semiótica foi adotado definitivamente como padrão para os estudos dos signos a partir do ano de 1969.

O estudo da semiótica está inserido no interior da chamada teoria dos signos, uma teoria filosófica e científica que se ocupa de tudo o que carrega consigo algum sentido, que comunica algo e que transmite alguma informação. Uma semiótica pode ser, primeiramente, dividida em dois âmbitos: um específico e um geral. No âmbito específico, a semiótica tem um caráter gramático, dedicando-se a estudos linguísticos, de sistemas de sinalização (como no trânsito, por exemplo), de gestos, de notação musical, etc. No âmbito geral, por sua vez, a semiótica assume um caráter mais propriamente filosófico, não se dedicando à análise dos sinais já dados, mas construindo-os de modo teórico, a fim de explicar fenômenos que, por si, aparentam ser desiguais. Nesse sentido, alguns estudiosos compreendem um signo como algo que define um termo linguístico, uma imagem, um gesto, um sintoma físico. Outros teóricos ampliam ainda mais o sentido do signo, atribuindo a ele também fenômenos naturais, como a comunicação dos animais. Há, também, aqueles que limitam o signo aos artifícios criados pelos seres humanos exclusivamente para fins de comunicação (palavras, gestos, sinais de fumaça, etc.).

Outra divisão da semiótica também pode ser feita, no que diz respeito à linguística, em três áreas: pragmática, que estuda como as pessoas, as máquinas ou os animais utilizam os signos; semântica, que estuda a relação dos signos e de seus diferentes significados, independentemente dos modos como são utilizados; por fim, sintaxe, que estuda a relação dos signos em si mesmos, desconsiderando tanto o seu uso quanto seu significado.

Mais uma divisão encontrada dentro dos estudos da semiótica diz respeito ao sentido do termo “signo”, referido no primeiro parágrafo. Tal divisão distingue o signo entre símbolos, ícones e índices.

Um símbolo, também chamado de “signo convencional”, é comum às formas naturais de linguagem. É um signo cuja forma não tem qualquer correspondência direta com aquilo que ela se refere e que não indica necessariamente sua presença quando ele é utilizado. Nesse sentido, uma palavra escrita é um símbolo. Por exemplo: a palavra CÃO não se parece com um cachorro e pode estar escrita em algum lugar onde não há nenhum cachorro.

Um índice, ou “signo natural”, é um signo que é casual ou estatisticamente relacionado àquilo a que ele se refere e que não é produzido de maneira intencional. Nesse sentido, seguindo o exemplo anterior, um latido indica que há um cão.

Por fim, um ícone é um signo cuja forma corresponde àquilo a que ele se refere. Exemplo: uma placa com o desenho de um cão lembra, imediatamente, um cão.

Alguns dos principais teóricos da semiótica são Ferdinand de Saussure, Charles Peirce (1839 – 1914) e Umberto Eco (1932 – 2016).

Referências:

AUDI, Robert. The Cambridge Dictionary of Philosophy. New York: Cambridge University Press, 1999.

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

BUNNIN, Nicholas; YU, Jiyuan. The Blackwell Dictionary of Western Philosophy. Oxford: Blackwell Publishing, 2004.

Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/filosofia/semiotica/


Doutorado em andamento em Filosofia (UERJ, 2018)
Mestre em Filosofia (UERJ, 2017)
Graduado em Filosofia (UERJ, 2015)

Umberto Eco



Umberto Eco




Biografia


Umberto Eco (1932-2016) foi um escritor, professor, filósofo e crítico literário italiano. Autor do best-seller “O Nome da Rosa”, exerceu grande influencia nos círculos intelectuais de todo o mundo, nas décadas de 60 e 70, por sua teoria da “obra aberta” e outras pesquisas na área da estética e da semiótica.

Umberto Eco nasceu em Alexandria, no noroeste da Itália, no dia 5 de janeiro de 1932. Era filho de Giulio Eco e Giovanna Eco. Viveu a primeira infância sobre a sombra do fascismo.

Com 10 anos de idade, Eco foi vencedor de um concurso de redação, com o tema proposto: “Devemos morrer pela glória de Mussolini e pelo destino imortal da Itália?”.

Ainda estudante, deixou de acreditar em Deus - um dos pilares de sua educação - e abandonou a religião.

Formação


Umberto Eco estudou Filosofia na Universidade de Turim. Dedicou-se à filosofia com a ajuda de Luigi Pareyson.

Doutorou-se em estética em 1961 após escrever alguns estudos sobre estética medieval. Seus primeiros trabalhos foram dedicados ao estudo da estética medieval, especialmente sobre os textos de São Tomás de Aquino. Escreveu "Il Problema Estetico de San Tommaso" (1956).

Tornou-se professor em diversas cidades italianas. Além de conciliar suas pesquisas, ministrou cursos em outros países europeus e nos Estados Unidos.

Lecionou na Universidade de Turim de 1956 a 1964. Em 1971 tornou-se professor da Universidade da Bolonha.

Carreira literária


A vocação primeira de Umberto Eco foi para o ensaio e para a crítica, publicou mais de trinta livros nesse gênero, contra apenas sete romances, nos quais havia sempre uma divagação para o ensaio.

Umberto Eco impõe-se como teórico com a publicação de “Obra Aberta” (1962), na qual sugere não somente uma teoria estética, mas uma história da cultura, vista através da história das poéticas.

Concebe a obra aberta como um modelo teórico, hipotético, de mensagens indeterminada, ambígua e incitam os receptores a uma participação mais ativa no processo de criação e interpretação.

Em 1964, Eco publicou a obra “Apocalípticos e Integrados” onde analisa as duas posições possíveis ante o fenômeno da cultura de massa no mundo contemporâneo.

Na obra, elaborou a tese de que os “apocalípticos" seriam aqueles que defendiam uma arte erudita contra a influência da cultura de massas, ao passo que os “integrados” defendiam a massificação de produtos culturais como consequência positiva da democratização.

Umberto Eco foi considerado um dos expoentes da nova narrativa italiana, iniciada por Ítalo Calvino. Exerceu grande influência sobre os meios intelectuais ao estudar os fenômenos de comunicação ligados à cultura de massas, como histórias em quadrinhos, telenovelas e cartazes publicitários.

Nos anos 70, passou a se dedicar ao estudo da semiótica, estabelecendo novas perspectivas sobre o assunto sob a influência de filósofos como John Locke, Kant e Peirce, abandonando as teorias semiológicas do linguista Ferdinand Saussure.

Obras importantes desse período: “As Formas do Conteúdo” (1971) e o livro “Tratado Geral de Semiótica” (1975).

Na obra "O Super-Homem de Massa" (1978), o autor volta-se para a literatura popular que desde o início do século XIX produziu heróis como o Conde de Monte Cristo, Rocambole, Tarzan ou James Bond.

O Nome da Rosa


Em 1980, Umberto Eco publicou "O Nome da Rosa", seu primeiro romance, que o consagrou.

Ambientado em um mosteiro da Itália medieval, entre mortes obscuras e uma biblioteca que encerra segredos inomináveis – uma alusão aos muitos atentados políticos da Itália, notadamente a morte do ex-primeiro ministro Aldo Moro, em 1978.

A morte de dois assistentes de Umberto Eco em condições misteriosas atiçou ainda mais a imaginação dos leitores. A obra tornou-se um best-seller mundial e gerou uma versão cinematográfica, lançada em 1986.

O Pêndulo de Foucault


Em 1989, Eco lançou "O Pêndulo de Foucault", que ele classifica como "um romance das ideias, sobre a relação entre razão e irracionalismo".

A trama é um plano conspiratório feito um pouco por diversão que sai do controle quando os personagens passam a ser perseguidos por uma sociedade secreta que os toma por detentores de um segredo dos Cavaleiros Templários.

O Cemitério de Praga


Em 2010, Umberto Eco lançou “O Cemitério de Praga”, na obra, o avô do protagonista é um antissemita que acredita que os maçons, os templários e a seita secreta dos Iluministas estiveram por trás da Revolução Francesa.

História das Terras e Lugares Lendários

Autor de romances eruditos que se tornaram best-sellers, Umberto Eco se dedicou também ao que em inglês se chama coffee table books – aqueles livros vistosos próprios para enfeitar a mesa de centro da sala.

Nesse mesmo gênero, já havia publicou “História da Beleza”, “História da Feiura” e a “Vertígem das Listas” Ee Histórias das Terras e Lugares Lendários, ele segue a mesma linha: não tem a profundidade teórica de outros ensaios.

Contudo, é um compêndio rico em informações, complementado por uma iconografia de textos literários que vão de Plínio o Velho, ao próprio Eco.

O tema são as terras lendárias que já foram tidas por reis e inflamaram a ambição de viajantes e aventureiros, como o Eldorado.

Número Zero


Em seu último trabalho, “Número Zero” (2015), o autor critica o mau jornalismo e a manipulação dos fatos. Leva seu interesse pelas teorias conspiratórias para o ambiente da redação de um jornal de Milão, em 1992.

Umberto Eco faleceu em Milão, Itália, no dia 19 de fevereiro de 2016.

Frases de Umberto Eco


"Nem todas as verdades são para todos os ouvidos".

"Quando os verdadeiros inimigos são muito fortes, é preciso escolher inimigos mais fracos".

"Se a rendição à ignorância e chamá-la de Deus sempre foi prematuro, continua prematuro até hoje".

"As pessoas nascem sempre sob o signo errado, e estar no mundo de forma digna significa corrigir dia a dia o próprio horóscopo".

Outras Obras de Umberto Eco


· Tratado Geral de Semiótica (1975)

· Pós-escrito a O Nome da Rosa (1983)

· Arte e Beleza Na Estética Medieval (1986)

· O Segundo Diário Mínimo (1992)

· A Ilha do Dia Anterior (1994)

· Em Que Creem os que Não Creem (1996)

· Sobre a Literatura (2002)

· Da Árvore ao Labirinto (2007)

· A Misteriosa Chama da Rainha Loana (2009)

· O Cemitério de Praga (2010)

· Construir o Inimigo (2011)

· Confissões de um Jovem Romancista (2011)

Obras póstumas


Em dois lançamentos póstumos de Umberto Eco - um artigo clássico sobre o fascismo e uma coleção de conferências - mostram como o escritor viajava no ensaio.

O Fascismo Eterno (2019) é um ensaio que já constava em "Cinco Escritos Morais", de 1997. Nela, Eco argumenta que, comparado ao nazismo, seu irmão alemão, o fascismo italiano era mais frouxo - uma ideologia marcada pela "debilidade filosófica.

Nos Ombros do Gigante (2019) é coletânea de textos nos quais Eco revisa e revisita temas que lhe são caros, mas sem avançar novas proposições teóricas ou achados críticos. São doze conferências produzidas especialmente para "La Milanesiana", um festival cultural de Milão.

A obra oferece um passeio por temas como: a natureza dos personagens de ficção, a fluidez de nossos critérios de beleza e o fascínio que conspirações imaginárias exercem sobre tantos crédulos.

Por Dilva Frazão

Biblioteconomista e professora