Um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos.
Friedrich Nietzsche
A política, nas mãos erradas, deixa de ser uma arte do
possível para se tornar um instrumento da conveniência. O governante que não
pensa no bem comum, pensa apenas na manutenção de seu trono – e para isso,
reduz os outros a duas categorias: instrumentos a serem usados ou ameaças a
serem silenciadas.
Simone Weil já dizia que “a obediência à autoridade deixa de ser virtude
quando a autoridade deixa de ser legítima”. Mas quem define a legitimidade
quando o povo foi treinado para aplaudir o cativeiro?
A massa não exige verdade, exige conforto. E o político
moderno não lidera – ele oferece alívio temporário da responsabilidade de
pensar.
Platão, em sua “República”, via o governante ideal como o “rei filósofo” – alguém
que busca o bem coletivo a partir do conhecimento verdadeiro.
O que temos hoje são atores de palanque, vendedores de
promessas fabricadas em gabinetes, que entendem a ignorância como matéria-prima
e a mentira como retórica.
Spinoza entendia o poder como a capacidade de agir em conformidade com a razão.
Mas isso pressupõe indivíduos conscientes, Já o político, quando teme o esclarecimento,
prefere manter a população ocupada com falsos antagonismos.
Cria-se um inimigo – um partido, uma minoria, um estrangeiro –
e então se vende a salvação. A manipulação exige um demônio para justificar o
salvador.
Carl Schimitt, jurista alemão e pensador do poder, afirmou que “soberano é
quem decide sobre o estado de exceção”. Ou seja, quem tem o poder de suspender
as regras em nome de uma suposta urgência.
A democracia, nesse jogo, vira apenas uma vitrine. O
verdadeiro poder acontece nos bastidores, onde leis são dobradas e princípios
são negociados.
Não é que os políticos sejam todos perversos. E que o sistema
premia a dissimulação, o populismo e a capacidade de transformar a verdade em performance.
O eleitor, por sua vez, não quer responsabilidade, quer um
messias. E assim se perpetua o ciclo de servidão voluntária que La Boétie
denunciou no século XVI “De onde tiram tantos olhos que vos espia, senão dos
vossos?”.
“Quando o povo idolatra o poder, transforma seus próprios
algozes em salvadores.”
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