quinta-feira, 3 de julho de 2025

Alienação e política

 Um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos.

                                                                                                                        Friedrich Nietzsche

A política, nas mãos erradas, deixa de ser uma arte do possível para se tornar um instrumento da conveniência. O governante que não pensa no bem comum, pensa apenas na manutenção de seu trono – e para isso, reduz os outros a duas categorias: instrumentos a serem usados ou ameaças a serem silenciadas.

Simone Weil já dizia que “a obediência à autoridade deixa de ser virtude quando a autoridade deixa de ser legítima”. Mas quem define a legitimidade quando o povo foi treinado para aplaudir o cativeiro?

A massa não exige verdade, exige conforto. E o político moderno não lidera – ele oferece alívio temporário da responsabilidade de pensar.

Platão, em sua “República”, via o governante ideal como o “rei filósofo” – alguém que busca o bem coletivo a partir do conhecimento verdadeiro.

O que temos hoje são atores de palanque, vendedores de promessas fabricadas em gabinetes, que entendem a ignorância como matéria-prima e a mentira como retórica.

Spinoza entendia o poder como a capacidade de agir em conformidade com a razão. Mas isso pressupõe indivíduos conscientes, Já o político, quando teme o esclarecimento, prefere manter a população ocupada com falsos antagonismos.

Cria-se um inimigo – um partido, uma minoria, um estrangeiro – e então se vende a salvação. A manipulação exige um demônio para justificar o salvador.

Carl Schimitt, jurista alemão e pensador do poder, afirmou que “soberano é quem decide sobre o estado de exceção”. Ou seja, quem tem o poder de suspender as regras em nome de uma suposta urgência.

A democracia, nesse jogo, vira apenas uma vitrine. O verdadeiro poder acontece nos bastidores, onde leis são dobradas e princípios são negociados.

Não é que os políticos sejam todos perversos. E que o sistema premia a dissimulação, o populismo e a capacidade de transformar a verdade em performance.

O eleitor, por sua vez, não quer responsabilidade, quer um messias. E assim se perpetua o ciclo de servidão voluntária que La Boétie denunciou no século XVI “De onde tiram tantos olhos que vos espia, senão dos vossos?”.

“Quando o povo idolatra o poder, transforma seus próprios algozes em salvadores.”

                                                                                                                    Virtualfilosofia

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